quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Navalhas & Guilhotinas - Uma análise crítica do hip hop nacional

por Razor H4


Não são simples historietas e estorietas de escárnios e maldizeres, não são palavras de ódio, de raiva ou de inveja... São palavras insanas para o modelo insano de arte que nós temos, que nos cerca a toda hora, que nos faz engolir goela à baixo os mais repugnantes pronunciamentos de rappers neuróticos e mc’s néscios mas inconscientes de tudo isso... Contra todos aqueles que se escondem por trás dos microfones e álbuns, mostrando não o que são – mas o que querem ser.
Estamos acostumados a sermos os presos de nossos próprios ergástulos, de nossos egos e nossos imaginários colectivamente individuais e individualmente colectivos. Somos incapazes de ter olhos para o mais distante, ousadia para o proibido, sob pena de sermos rotulados com os adjectivos advindos daqueles que estão nas amarras da mediocridade. Estas linhas foram escritas com um propósito bem simétrico a estes padrões conformistas e limitativos: é a ousadia para o proibido, é o olho para o distante, é o desmascaramento dessas mentes míopes sem noção do que é integridade artística ou intelectual.
Dependentemente de seu grau de estupidez mascarada de arte, alguns são talhados simplesmente com navalhas e outros vão mesmo para a guilhotina, sem que com isso tenhamos um Louis XVI, uma Maria-Antonieta da Áustria ou um Maximilien de Robespierre.
Álbuns saem tal como os fungos crescem e seus protagonistas atribuem-lhes  valores que realmente não têm. É a febre do desejo, a vampirização energética dos "mc's-sombras", em suma a neurose como meio de sustentabilidade para os mesmos neuróticos... Sim neuróticos, os arquitectos da esquizofrenia artística que é endémica em Angola, digo, em Luanda.
Os fracos e malogrados possuem revestimentos, projectando para a população medieval uma imagem, ou seja, uma espécie de figuras holográficas que servem de ‘bases ou pilares’ para as suas actuações. E isso é tão verdade, que face às várias correntes críticas que surgem da new age (como eu?), os fãs (isso parece um eufemismo para ‘débeis humanóides’) saem de suas tocas para defender os mesmos fracos e malogrados!
A população é banhada por ondas de estúpidos enredos, ondas vindas do oceano cósmico da perversão – América – e molham os habitantes do arquipélago da ignorância – Angola. Esses dois binómios têm algo em comum: as iniciais e finais ‘A’ (‘A’ de Agnosia).
"Cd's saem, só que ninguém é credível", foram palavras de Raptor. Isso também é quase uma constante no Hip Hop angolano, com um mercado a fervilhar de rappers sintéticos (quer sejam comerciais ou undergrounds).
Há uma certa encefalgia nos famigerados "expoentes" do nosso Hip Hop que passa despercebida pelos consumidores acéfalos dos lixos liricais dos mesmos. Os nossos mc's são, de modo extremamente gritante, vítimas de seus próprios pronunciamentos, vítimas de seus discursos mascarados com um fraco knowledge... A maior parte reúne em si a auto-contradição, se calhar porque agora todos querem ter a boca mais afiada ou porque é moda ser paranóico para chamar atenção, e isso soa quase que evidente. Muitos dos álbuns que até agora foram lançados, que de uma forma ou de nenhuma tiveram uma projecção acentuada, na verdade foram uma espécie de charlatanismo poético ou artístico: cópias de cópias de "valetes", cópias gatafunhadas dos "waynes", rabiscos medievais dos "jay-zis"...
Os "miúdos-mc's" estão com os egos todos densos e as bocas mais aceleradas que os cérebros. Sentem sempre a necessidade de ser os centros das atenções, nem que com isso tenham de ser idiotas. É incrível o festival dos rappers-nem-sequer-existem que é realizado quase mensalmente...
São tão simplistas, ao ponto de caírem mesmo no absurdo, os que gritam aos quatro ventos "sou underground, sou underground... sou underground" vezes sem conta (da primeira à última faixa do álbum); são tão previsíveis os rappers embusteiros que dizem orgulhar-se das figuras ridículas que fazem – e fazem-nas com um orgulho daqueles! E mais com essas modas das mix-tapes que não são mix-tapes... Aumenta o número de acéfalos que apregoam ser os kings, os "donos das bocas", os "mandantes do hood ou do block" e todos esses disparates que cabem apenas nesses cérebros-de-ameba.
Comerciais e undergrounds parecem estar todos igualados: agora são todos comerciantes com produtos contrabandeados! Demagogicamente aldrabam a população, existencialmente vivem nas periferias de seus "EUs" interiores e as mesmas massas incautas estão sempre dispostas a apoiá-los com 1000 KZs por cada exemplar artisticamente contrabandeado!!!